Fazia algum tempo já que dois clubes de um mesmo país não dominavam o favoritismo em competições europeias como hoje dominam o Barcelona e o Real Madri. Mas por que chegaram a esta situação?
Na época em que o Real Madri montou a sua primeira equipe chamada de “galácticos”, com a contratação de Figo do arquirrival Barcelona em 2000, Zidane em 2001, Ronaldo em 2002 e Beckham em 2003, ganhou duas ligas espanholas, duas supercopas da Espanha, uma supercopa da Europa, uma Champions e um Mundial de clubes. Todo o dinheiro do Real Madri veio da venda de terrenos do clube para a prefeitura da cidade fazer um complexo de prédios, em uma transação muito discutida pela imprensa local. O Barcelona não contratou por atacado, mas trouxe Ronaldinho Gaúcho como símbolo do futebol que gostaria de apresentar e também começou a obter resultados mais significativos e ainda colhe frutos daquele projeto iniciado em julho de 2003.
O fato é que ambos se beneficiaram da chamada “Lei Beckham”, onde qualquer estrangeiro que ganhasse mais do que 120mil euros pagaria menos impostos (24%) do que um espanhol (43% à época) e também em relação ao “primeiro mundo do futebol”. Logo, se um clube estivesse disposto a gastar 5 milhões de euros em um jogador, o valor líquido que o atleta estrangeiro receberia seria maior na Espanha do que nos outros países, facilitando a contratação já que os grandes contratos são negociados por valores livres de impostos.
Depois de um tempo essa Lei foi modificada e a contabilização dos direitos de imagem dos jogadores teve de ser modificada para que não houvesse tamanha distorção. Mas como manter os dois principais clubes do país no auge da Europa? Fácil, aumentando o bolo da divisão de receita da cota de televisão e aumentando também a participação neste bolo dos dois grandes! Essa concentração de riqueza, aonde aproximadamente 50% dos direitos do campeonato vão para a dupla, gera desigualdades? Claro! Isso importa para a Espanha? Nem tanto.
O que mais vale para a Espanha como país e para a federação de futebol, é que sempre tenha algum representante na luta pelos principais títulos do mundo. Isso gera prestígio, comercialização de produtos, de serviços e outros e, portanto, impostos ao governo e atração de turistas. Vale lembrar que a Espanha é o 4º país do mundo que mais recebe turistas e o 3º país do mundo com maior gasto dos turistas. Também é importante ressaltar que o turismo esportivo é responsável por 10% do turismo mundial.
O Getafe está reclamando? A torcida do Granada está desgostosa com a divisão de recursos de TV? O Alicante não encontra um sheik qualquer para que possa oferecer o clube? Nada disso importa ao alto escalão do futebol espanhol enquanto o Barcelona for o queridinho do futebol mundial e o Real for apontado como um dos poucos clubes que podem fazer frente a ele. Ou até que venha a quebra generalizada dos clubes de futebol espanhóis, que está próxima, já que mais de 20 clubes de futebol na Espanha aderiram à “Lei Concursal”.
Abraço,
Álvaro Ramos Prange
@ramos_alvaro
1 comentários:
A pura verdade
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